O que é ser Luciferiano?
Por Φαρζούφος (Pharzouphos) – Versão revisada
Igni eris, sire ingi
Antes de qualquer coisa, ser Luciferiano é ser você mesmo.
É conhecer (e reconhecer) sua essência mais íntima e agir com firmeza e autenticidade para lapidá-la continuamente. É um compromisso com sua própria transformação — γνῶθι σεαυτόν (gnōthi seautón).
É buscar o autoconhecimento com profundidade, reunindo as partes dispersas do seu ser e integrando-as num ponto de poder e densidade (o ponto de máxima contração — o centrum contractionis summae).
É desvendar a Verdadeira Vontade, buscando realizá-la plenamente, em vez de viver imerso em ilusões de pecado e recompensa, entre altos e baixos emocionais.
É saber o que você quer, em vez de ser levado por modismos, opiniões alheias ou por ruídos alienantes das mídias e das muitas telas.
É amar intensamente o ser humano — ou Sobre-Humano — mais próximo: você.
Nutrir uma autoestima sólida, sem narcisismo estéril, que apenas sabota sua evolução.
É respeitar sua individualidade e a dos outros, sem se tornar corrosivo nos ambientes que frequenta.
É lutar por sua independência nos diversos níveis da existência.
É desejar que aqueles que você ama também se realizem, para que possam te compreender e caminhar ao seu lado.
É saber amar com liberdade e intensidade, sem se aprisionar em trocas ou expectativas.
É também saber se entregar, quando isso estiver alinhado com a sua Vontade.
É viver os prazeres com consciência e tornar cada ato de amor um ato mágicko.
É libertar-se das contaminações coletivas, compreendendo os mecanismos da cultura e religião de massa, para então se afastar com lucidez.
É agir com orgulho sereno, sem arrogância, e fazer acontecer — em vez de apenas observar o tempo escorrer como areia de uma ampulheta quebrada.
É mergulhar em conhecimento verdadeiro e profundo, conectando causas e efeitos.
É desenvolver sabedoria, percepção sutil e experiência real nos mistérios da vida e da iniciação.
É dominar suas emoções e sentimentos com equilíbrio. Transmutar energias sem se ferir. É deixar de agir por impulsos brutos e entender que, na alquimia interna, pode-se produzir ouro — ou chumbo.
É compreender o movimento dos astros e suas influências — na astrologia, na astronomia, e além — reconhecendo também que cada pessoa é um astro com trajetória própria, cujas interações com outros corpos geram atrações, colisões e transformações. É observar essas relações no alto, no baixo e no íntimo.
É mergulhar na irracionalidade, entender seus instintos mais primitivos, e caminhar nos túneis caóticos da inconsciência para resgatar o que ali repousa.
É trazer à luz os demônios famintos que habitam a mente e despertar a potência que dorme sob as águas revoltas da psique.
É recusar o papel de rebanho.
O Luciferiano não se submete a inteligências alheias. Não sobrevive como ovelha em engorda esperando o abate — identifica e se afasta dos matadouros espirituais.
É não crer em milagres nem em estórias de púlpito. Milagres são ilusões, e pregadores, muitas vezes, apenas buscam fiéis para seus cofres.
É não esquecer de quem se é só para agradar os outros.
É sustentar suas convicções sem se preocupar com a aprovação alheia.
É reconhecer e satisfazer seus instintos de forma consciente, evitando excessos inconscientes.
É se permitir o prazer sem culpa ou vício, com liberdade e responsabilidade.
É entender que a compaixão, como pregada pelas massas, pode ser um vício disfarçado de virtude — usada para fragilizar o forte e explorar o sensível. Ausência de compaixão não é sinônimo de tirania.
É rejeitar dogmas. Questionar, refletir, pensar com profundidade — mesmo quando os ensinamentos vêm de figuras queridas ou respeitadas. Boas intenções não substituem discernimento.
É evitar envolvimentos vazios, causas irrelevantes, e conversas que não elevam.
É entender a transformação da energia. Toda forma de energia pode ser transformada através do método adequado. É reconhecer o potencial, agir com precisão e saber onde aplicar sua alavanca para mover o universo.
É ser criador do próprio cosmos, e não marionete da ignorância institucionalizada.
É não ser inocente — e ser amoral. A inocência pode ser uma armadilha.
Ser livre é não se sujeitar a códigos morais impostos para aceitação social.
É resistir às correntes incoerentes de pensamento e aos papagaios de ideias ocas, que só repetem jargões para alimentar egos e contas bancárias.
É estudar as Ciências e as Artes da existência em sua complexidade. É buscar a experiência estética e iniciática que a Arte pode despertar.
É definir para si mesmo o que é certo e errado. Avaliar as consequências das próprias ações — em si, ao redor e nos que ama — e agir com consciência.
É nunca condenar o que não se conhece. Ignorância é o berço da pior crítica.
É combater a inércia, a mediocridade e a covardia.
É se afastar, com lucidez, do que te faz mal — e saber se aproximar quando for necessário.
É aprender com os erros, construir acertos sobre eles e lembrar que toda causa tende a seu efeito.
É encarar sua Sombra, procurar as respostas ocultas no inconsciente e despertar os demônios interiores para conhecê-los — e integrá-los.
É não cultivar preconceitos. Julgar os outros por suas diferenças revela apenas a brutalidade interior.
É ouvir mais do que fala. E, quando fala, que seja com clareza e intenção.
A palavra também é um ato mágicko.
É não buscar agradar — nem desagradar. É simplesmente ser o que se é, com dignidade e presença.
É amadurecer emocionalmente sem negar os processos que constroem essa maturidade.
É atravessar suas crises com coragem e extrair delas sabedoria.
É sentir a dor que ensina e evitar a que só destrói.
É nunca fugir dos desafios, nem cortar caminho.
É enfrentar, superar, e honrar aquilo que merece respeito.
É cultivar caráter, não fama.
Escolher com lucidez. Ver além — tanto na luz quanto nas trevas — e caminhar com equilíbrio por entre ambas.
É saber andar com firmeza, seja em territórios pacificados ou em campos de batalha.
Ser Luciferiano é, portanto, uma jornada de retorno a si mesmo — profunda, livre, destemida.
É o caminho de quem não apenas ousa conhecer a própria essência, mas transforma esse conhecimento em poder.
Nem todos suportam essa travessia. Mas aqueles que a enfrentam… jamais voltam os mesmos.
In girum imus nocte et consumimur igni
Tenebras amo, soma sarbenet